Faça o que você precisa fazer: A importância de fazer o básico com excelência
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Algum tempo atrás tive um conhecido que entrou na empresa onde eu trabalhava como desenvolvedor backend. Ele fazia parte de um time com o qual eu tinha proximidade, e, por conta disso, eu acabei sabendo o quanto ele se saía bem em algumas tarefas que envolviam soft skills.
Ninguém desenhava fluxos de trabalho como ele, e sua comunicação com a área de negócios era excelente. Ele era querido pelo time inteiro, sempre muito presente, sempre muito disposto. Alguns membros do seu time, no entanto, demonstravam receio, porque ele parecia evitar as tarefas mais técnicas. Se havia código envolvido, pode ter certeza que não era ele fazendo.
Houveram tentativas de treina-lo. Os desenvolvedores mais experientes ficavam após o expediente para passar atividades técnicas para ele, ensinar conceitos, e ele parecia ter o conhecimento necessário. Na teoria, ele sabia o que fazer, mas na prática nunca fazia.
Depois de poucos meses ele foi demitido. E a sua antiga equipe? Surpreendentemente (ou não), eles acabaram se tornando mais ágeis depois da sua saída. O que pode ter acontecido?
O que fica bastante claro para mim ao contar isso pode não ter sido claro para esse dev à época. Antes de ser bom em tarefas extras, você precisa ser bom no que foi contratado para fazer.
Faça (primeiro) o que você precisa fazer.
Não interessa o quanto um desenvolvedor back-end é organizado, ou o quanto ele auxilia o RH na hora de contratar novas pessoas, ou o quanto a equipe gosta dele: se ele não souber escrever e manter código de forma exemplar ele não vai ser um bom desenvolvedor.
Antes de surpreender você precisa ser previsível. Pode parecer óbvio, mas são tantas tarefas no dia a dia que é fácil se deixar levar. Algo sempre fica para depois, mas esse algo nunca pode ser sua função primordial.
Pessoas dedicadas tendem a querer ser ótimas em seus papéis, mas podem acabar não correspondendo a expectativa dos gestores por tentarem extrapolar o que estão sendo pagas para fazer sem fazer, primeiro, o básico.
A regra para ter sucesso nas empreitadas profissionais é focar primeiro no óbvio: Um escritor precisa, primeiro, escrever bem. Marketing, imagem, negociação, etc, são obviamente importantes, mas ficam em segundo plano em relação a sua atividade principal.
Ser proativo é ótimo. Ser proativo com tarefas que não são suas pode ser um problema
Claro que as pessoas e empresas buscam, cada vez mais, profissionais que sejam completos. Isso tudo porque o mercado é competitivo, e ter habilidades variadas pode ser determinante para conseguir uma boa colocação. É ótimo que cada profissional tenha desenvoltura em resolver conflitos, que seja bom no trabalho em equipe, que seja adaptável, comunicativo, flexível, só que é preciso ter cautela no foco.
Vamos pensar em um exemplo hipotético.
Imagine que uma engenheira de dados precise, junto com uma equipe, criar um novo sistema. Imagine também que durante o tempo de desenvolvimento dessa tarefa ela seja abordada o tempo inteiro para auxiliar novos profissionais em projetos diferentes, por ser muito boa em ensinar.
Nesse caso, se essa engenheira se dedicar muito a tarefas alheias, como ela vai conseguir criar e implementar boas estratégias, ou definir o melhor armazenamento da informação? Seu tempo e energia são limitados, e o investimento principal dessa profissional não estará sendo bem empregado assim.
Mesmo sendo muito boa em guiar novos profissionais, é preciso se perguntar: Alguém está desvirtuando o papel dessa engenheira e a sobrecarregando, ou é a própria profissional que falha em estabelecer limites? Ou é possível que o que esteja acontecendo seja uma falta de priorização do que é mais importante? Se alguém é constantemente retirado dos seus afazeres principais para a realização de outra tarefa, é possível que o talento dessa pessoa seja mais útil em outro projeto ou em outro setor?
Por isso é importante ter muito cuidado com o foco dado aos soft skills.
Soft Skills são importantes, mas Hard Skills são insubstituíveis
Seu tempo é escasso, e, as tarefas, infinitas. No geral, tentar ser um profissional completo é uma tentativa muito válida e deve ser valorizada.
O importante é saber no que ser bom primeiro.
Pode até ser que você seja contratado por demonstrar que tem soft skills interessantes para a cultura e para os valores da empresa, mas isso não se sustenta para sempre: você vai ter que ralar bastante para desenvolver todas as habilidades técnicas necessárias para ser ótimo na função para a qual foi contratado.
Com alguma sorte, você vai conseguir extrapolar suas tarefas e fazer ainda mais do que é esperado, mas isso só vale a pena como bônus. Você será lembrado pelo profissional que você é, e a maior parte disso vai se relacionar com sua função principal.
Quem nunca se perguntou porque certas pessoas nunca são demitidas, ou até mesmo promovidas, ou mantidas em momentos de layoff? Tente se lembrar aquele membro da equipe que ninguém gosta muito, que é inacessível ou que não tem lá muita habilidade interpessoal: a resposta para sua manutenção e crescimento é porque ele é excelente em sua função principal.
Então, como ninguém consegue ser bom em tudo, se for para ser muito bom em algo, que seja no que você foi contratado para fazer.
O básico bem feito continua sendo o caminho para o sucesso
Independente das novas cobranças e de uma cultura cada vez mais acelerada, fazer o básico bem feito é a verdadeira estratégia vencedora. Depois disso, você pode melhorar em outras áreas, ampliar seu leque de habilidades e ir caminhando para se tornar um profissional insubstituível, mas o básico bem feito vai precisar sempre estar em dia.
É fundamental entender qual é seu papel e se concentrar primeiro nas suas responsabilidades principais. Isso inclui desenvolver as habilidades técnicas centrais antes de qualquer coisa.
Não podemos deixar nunca de valorizar soft skills, só é necessário ter cautela ao assumir tarefas paralelas. Os limites devem ser muito claros, e, as prioridades, mais ainda. Então, descubra qual é seu papel e tente ter foco em exercê-lo da melhor forma possível.
O que vier além disso, é lucro.
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